#9: Onde moram os informais em São Paulo?
Usando dados da pesquisa Origem-Destino 2023-2024 do Metrô de São Paulo
Recentemente, uma pesquisa do DataFolha mostrou que a maioria das pessoas entrevistadas preferia empreender do que ter emprego com CLT. Esse dado confirma uma tendência identificada por diversos pesquisadores de que o trabalhador brasileiro estaria mudando, lentamente deixando de preferir a estabilidade, valorizando flexibilidade e maior capacidade de ganhar por hora/ esforço próprio.
Por um lado, isto reflete características geracionais, o impacto de novas tecnologias que permitem a gig economy ou trabalho remoto e mudanças sociais que podem não ser afetadas diretamente por políticas públicas acionáveis. Por outro, reflete uma reação dos trabalhadores a um contexto em que a CLT pressiona o trabalhador e o empregador em custos tributários, além de impor uma rigidez contratual que não necessariamente se adequa às preferências das novas gerações. Por fim, há um problema de erosão dos salários dos empregos formais pela inflação que não é compensada pelos benefícios da CLT, ainda mais com a estagnação da produtividade.
Ainda, é importante salientar que a informalidade no Brasil é extremamente heterogênea. Não só ela é intensiva, ou seja, há trabalhadores informais e formais na mesma firma, como ela é extensiva, ou seja, há trabalhadores informais distribuídos por diferentes setores no mercado de trabalho. Informais podem variar desde vendedores de ruas e pessoas que vivem de bicos a profissionais liberais que prestam serviços sem CNPJ.
Há ampla literatura em economia sobre as causas da informalidade no Brasil, seus impactos e como combatê-la, caso esse seja o desejo social (afinal, a informalidade também tem custo social, especialmente tributário). No entanto, cada vez mais há uma percepção de que mudanças no mundo do trabalho se refletem também no comportamento político (HOLLAND, 2017; HUMMELL, 2021; BAKER, 2022; MARX, 1852 talvez?)
O "novo trabalhador" brasileiro possui demandas diferentes do trabalhador celetista tradicional e sindicalizado (que, por sinal, nunca foi maioria expressiva no mercado de trabalho nacional). A primeira eleição em que isto ficou explícito no debate público foi a municipal de São Paulo em 2024, quando diversos analistas apontaram a informalidade crescente como uma das causas do resultado da esquerda na cidade. No entanto, desde 2016 há pesquisas sobre o assunto em institutos como a Fundação Perseu Abramo.
Mas como identificar os informais? A PNAD possui dados relacionados, mas ela não é granular o suficiente para avaliar dados intramunicipais. O Censo de 2022 será fundamental, mas até o IBGE divulgar os dados, talvez a dinâmica social já tenha mudado significativamente. Então resolvi usar a Pesquisa Origem e Destino 2023 (OD) do Metrô de São Paulo, que perguntou as características do trabalho a 79 mil pessoas em 32 mil domicílios válidos e aceitos.
A OD do Metrô é uma survey grande o suficiente para termos um retrato efetivo das características sociais da RMSP, ainda que não seja perfeita. Ela mostra que a maior parte dos trabalhadores informais moram nos subúrbios e há pouca informalidade no Centro. Assim, o diagnóstico de que o “novo trabalhador” está nas classes C e D é, de fato, realista e, mais do que isso, muda as percepções do que seria a representatividade da classe trabalhadora em São Paulo.
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PS: Algumas pessoas questionaram o que seria considerado informal. Pois bem, eu usei a mesma caracterização que o IBGE e a maioria das organizações e movimentos sociais. Quem desenhou a survey da OD muito provavelmente se baseou nas mesmas categorias que a PNAD usa, para poder ter alguma validação dos dados a posteriori. Claro, no entanto, que podemos considerar erros de mensuração e da própria aplicação de pesquisa. Como critério de discricionariedade, considerei as categorias em verde abaixo como informais, em linha com o adotado pelo IBGE em geral. Há, talvez, alguma incerteza sobre profissionais liberais e empregadores, mas a distribuição desse erro é relativamente irrelevante para a análise final.